07 outubro, 2007

Le Musée de La Republique, ou a mais jacobina das visitas


Pois parece que ninguém quis comentar o último passeio neste meio... Pelo menos o último e primeiro no qual participei, e sobre o qual aora me parece oportuno exorcizar a minha cabeça e contar o que me vai na alma. Até agora, com a falecida Carlota Joaquina, sempre me senti mais identificado, mas o novo Museu Nacional obriga a outra solenidade das afirmações. Comecemos.

Um Monárquico na base da República. Ou a república no lugar onde nunca deveria ter estado. Como sabem, após o 5 de Outubro de 1910 os Bens Nacionais da Casa Real passam à posse do Estado - o que é demagógico, já que sempre a ele pertenceram - e a Família Real, exilada, perde também os seus bens pessoais que NUNCA foram Estatais e que eles próprios sustentaram, como é o caso da Quinta de Belém. Assiste-se então a uma ocupaçao dos espaços da família fugida e, para não entrar em quezílias, sobem-se os nomes destas residências a palácios nacionais - que só foram Queluz e Ajuda. Alguns, como Vila Viçosa ou o património imóvel da Rainha D. Amélia circundante ao Teatro Nacional de S. Carlos, mantêm-se na posse indirecta da Família a que pertenciam e foram ou transformados como imóveis da Fundação ou transitaram a quem a Augusta Rainha bem quis, após a sua morte, entre os quais é contemplado o seu afilhado de Batismo Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança. Lembre-se o sucedido há meia dúzia de anos com a exilada Família Real Grega, outrora proíbida de entrar no país onde reinava e que conseguiu, pelo Tribunal Internacional, reaver os bens que lhe tinham sido usurpados... Enfim, lá estou eu a fugir ao tema...

Pois bem, museu da presidência. Visitas em grupo, com uma Guia, controle total dos movimentos por uma segurança de um senhor que nem se encontrava no palácio - curiosamente foi o dia em que morreu o seu pai, que em Paz descanse - e visita a meia dúzia de salas onde vemos o que a república reuniu: um mobiliario de qualidade secundária, e quando bom vindo dos palácios reais e das colecções de D. Fernando II, nada que identifique o sistema. Nem aquela senhora despudorada se mostrou com o seu melhor Negligé no palácio; A única sala com legendas de difícil acesso, compreensão - e até arejamento - e a capela redecorada com quadros sobre a vida de Maria de Paula Rego a pedido de um presidente agnóstico ou ateu e de origem semita era o mais próximo de uma tortura própria de Dashau, com os escassos metros quadrados que nem quero imaginar quantos seriam, uma fraca iluminação e um super-povoamento momentâneo que torna a visita não só desagradável como de difícil captação do que se vê.

A Varanda um espaço delicioso, o jardim não é pisável no seu patamar inferior nem visitável no superior. Consequências da cultura em espaços públicos mas privados, diria o outro. E cada vez mais a Res Pública é Res Stricta...

O Museu da Presidência é escuro, confuso, sem percurso e sem ligação entre si. Quadros a dois níveis que levam o visitante a querer saber coisas sobre os superiores sem ter que subir as escadas, e peças de valor menor oferecidas por outros países aos chefes do actual estado. No andar superior as condecorações civís portuguesas actuais, as principais herdadas da Monarquia mas feitas com muito menor qualidade - já não há o bom ouro e pedraria brasileira e do Ultramar - e alguns objectos, sendo os mais curiosos os de Sidónio Pais e dos Presidentes do Estado Novo - facto curioso, na actual socialisto-democracia que tanto teme esses fantasmas mais que mortos e que há quarenta anos proclamam um certo mês, que nalguns sectores mais fanáticos leva mesmo à bela frase de que "falta cumprir Abril", quando esse mês é bem mais completo que outros, e o Fevereiro que se cale pois de todos é o mais diminuto.

Enfim, para todos vós, roam-se: digno de museu foi o jantar em casa da Bruxa Má, com uma fantástica Sapateira que se tornou breve, um vinho delicioso que conseguiu escapar à sua total absorção, entre outras iguarias. Valeu-nos isso, um manjar de reis, com direito a Bobos da Corte, teatros e Opera Bufa, para esquecer o pouco que a república ainda representa museológicamente - e quem sabe, não só...

1 comentário:

Moço de Estribo disse...

E não é que temos por cá uma Maria da Fonte e também com as pistolas na mão?